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E Pluribus Unum

E Pluribus Unum

19
Set09

Respeitinho

Tiago Cid

 
O Benfica joga largo. Há anos que não jogava largo. Mas isso não interessa nem para o menino Jesus.
O Benfica joga com identidade. Oou com Mística, se quiserem. É isso que importa.
A minha teoria, que vale o que vale, é esta.
Porque, depois de um largo interregno, passou de um gajo porreiro para outro gajo porreiro. Do Toni, gajo porreiro, para o Rui Costa, outro gajo porreiro.
Não somos rijos e manhosos como os do clube representativo da região norte. Tentámos imitá-los e foi o que se sabe.
Não somos o produto da ciência da gestão, como os do clube representativo de metade da segunda circular.  Nunca tentámos imitá-los, e, avaliando pelo resultado da coisa, ainda bem que não demos para aí.
Temos como idiossincrasia, prontos, digamos, ser uns gajos porreiros, uns gajos que gostam da jola morna e do coirato, uns gajos que até emigram para a Suíça e o Luxemburgo e enchem estádios do Canadá a Luanda (de uns gajos que vêm de propósito passar férias ao burgo como pretexto para ver o jogo inaugural do Glorioso). de uns gajos que não sabem falar mas que gostam de touros e da matança do porco. De uns gajos que  são da margem sul e com orgulho. De uns gajos que ainda teimam em dizer que o Maradona não tinha um pé direito como o Eusébio e que o Pelé levou baile do homem que deu honras de marisco ao tremoço. De uns gajos que se orgulham dos feitos do século passado como se fossem hoje e que os sentem como se fossem hoje. De uns gajos porreiros, portanto, inofensivos, românticos, mas que, sendo tantos e dando a coisa, por capricho dos deuses, para correr bem, caem às vezes para a hipérbole.
Do género, especulando completamente a despropósito: se qualquer um de nós atingisse o Olimpo de vir a ser treinador para além da bancada, diria qualquer coisa do género: “Comigue, o Benfique vai jogar o doubre. E, se calhar, o doubre é pouque!”. Diria ou não diria? E alguém levava a mal, se algum de nós caísse assim, digamos, para o exagero?
E agora reparem: se o Toni era um gajo porreiro, era um gajo porreiro no poleiro errado, o de treinador. Ainda assim, foi campeão, não porque percebesse alguma coisa de bola, mas porque, lá  está, era um gajo porreiro. Os jogadores (entre eles gajos porreiros como o Rui Costa) gostavam dele e amarfanhavam-se para dar alegrias ao gajo porreiro. Ora, hoje, o treinador percebe de bola mas não é um gajo porreiro. E os jogadores gostam dele precisamente porque percebe de bola (o que também convém). Não porque seja um gajo porreiro. Mas dedicam golos ao chefe. Ao chefe, ouviram bem? Porquê?
Porque é um gajo porreiro.
É a força do gajo porreiro.
E assim renasce a mítica. Que é como quem diz, assim renasce o respeitinho.

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